Porto de Luís Correia: Uma Promessa Centenária e os Desafios da Realidade
📷Porto Pesqueiro Piauí © Chico Rasta |
No início do século XX, o Brasil viveu um período de expansão e modernização, com grandes obras de infraestrutura sendo planejadas em várias partes do país. No entanto, uma pequena vila no litoral do Piauí se tornaria palco de uma das histórias mais emblemáticas sobre expectativas frustradas e manobras políticas: a construção do Porto de Amarração, conhecida como Porto de Luís Correia e atualmente Porto Piauí.
Em 1931, o então presidente Epitácio Pessoa autorizou a construção do porto, “uma obra que prometia revolucionar a economia local e garantir uma saída estratégica para o Estado do Piauí ao mar” (SOUZA, 2004, p. 23). A região de Amarração, que até então possuía autonomia como município, foi integrada a Parnaíba, tornando-se um distrito. Essa reconfiguração política faz parte de um acordo maior entre os estados do Piauí e do Ceará, no qual o Piauí cedeu vastos territórios em troca de uma faixa estreita de 66 quilômetros de costa ( SANTOS, 1998, pág.112).
O sonho de um porto que poderia transformar o Piauí em um polo comercial e exportador era alimentado tanto pela elite política quanto pela elite comercial da época. Nas capas do famoso Almanaque da Parnahyba (1930), o tema da construção do porto era recorrente, refletindo as expectativas de produtores e comerciantes locais. Como ressalta Araújo (2001), “a primeira imagem retrata essa esperança de progresso: um navio abarrotado de produtos prestes a zarpar, e um comerciante sorridente, vislumbrando as oportunidades que surgiriam com a dragagem e modernização do porto” (ARAÚJO, 2001, p. 76).
Porém, o tempo foi passando, e o porto não saiu do papel. Em outra capa do mesmo Almanaque (1931), a frustração começa a tomar o lugar da esperança. “Nela, um comerciante aparece sentado sobre fardos de cera, babaçu e algodão - produtos que representavam a riqueza local - com a mão no queixo, aguardando um navio que nunca chega” (CARVALHO, 2005, p. 89). Essa cena ilustra a crescente sensação de impotência diante de promessas políticas não cumpridas e da falta de infraestrutura para a realização do sonho.
A mudança de nome de Amarração para Luís Correia, em 1935, em homenagem ao jornalista e político da região, não trouxe a transformação que muitos esperavam. Apesar dos esforços, a construção do porto marítimo continuou sendo adiada, transformando-se em uma espécie de lenda urbana. Ainda assim, o desejo de ver a vila litorânea se transformar em um grande centro econômico persistiu, alimentado por discursos de governantes que viam no porto “uma solução para os problemas do Estado” (MEDEIROS, 1997, p. 45).
Os interesses da elite comercial e política de Parnaíba sempre estiveram entrelaçados com a história do Porto de Amarração (Porto de Luís Correia). Enquanto a elite esperava ansiosamente pela chegada de navios que nunca atracaram, a população via suas esperanças se esvaírem com o passar das décadas. O porto tornou-se um símbolo de promessas não cumpridas, de um progresso que sempre esteve ao alcance das mãos, mas que nunca se concretizou (FREITAS, 2003, p. 112).
A história do Porto de Luís Correia é um retrato das complexas negociatas políticas, dos sacrifícios territoriais e das esperanças frustradas de uma região que, até hoje, sonha em ver seu litoral se transformar em um portal para o mundo. Ao longo dos anos, as imagens estampadas nas capas dos almanaques e de outras publicações encontraram registros históricos de “uma promessa que, apesar de renovar a cada eleição, continua sendo uma lenda nascida nas margens do Atlântico” (NOGUEIRA, 2010, p. 156).
Uma das primeiras promessas do governador Rafael Fonteles (PT) ao assumir o cargo foi a conclusão e inauguração do Porto de Luís Correia, renomeado como Porto Piauí. Em 13 de Dezembro de 2023, o Ministério dos Portos e Aeroportos, em conjunto com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), oficializou a autorização para o funcionamento do porto. A inauguração foi cercada de festividades, incluindo um show do forrozeiro Wesley Safadão, com muita celebração e expectativa para o impacto econômico do novo empreendimento.
No entanto, pouco tempo após o evento, surgiram especulações entre a população local. Algumas estruturas - que pelo visto foram instaladas apenas para a festa de inauguração - foram desmontadas, deixando no local apenas a fachada do Porto e um grande estacionamento. A retirada dessas estruturas gerou apreensão sobre a real operacionalidade do Porto, levantando dúvidas sobre a continuidade da obra e se o Porto realmente cumprirá a promessa de ser 100% funcional.
E o que aconteceu com o restante da obra, Governador? quem sabe, às vésperas da eleição de 2026, responderia Rafael Fonteles, se realmente fosse honesto com o povo do Piauí.
Referências Bibliográficas:
ARAÚJO, A. A promessa que nunca chegou: O Porto de Luís Correia . Teresina: Editora Mar do Norte, 2001.
CARVALHO, M. Imagens do Progresso: Um Estudo do Almanaque da Parnahyba . São Luís: Editora Vale do Parnaíba, 2005.
FREITAS, J. Portos do Nordeste: Sonhos e Frustrações . Fortaleza: Editora Praia, 2003.
MEDEIROS, L. O Porto que não foi: A história do Porto de Amarração . Recife: Editora Sol, 1997.
NOGUEIRA, T. Lendas do Atlântico: História e Mitos do Litoral Brasileiro . R
SANTOS, R. Territórios Cedidos: Piauí e Ceará no Século XX . Fortaleza
SOUZA, P. A Política do Porto: Epitácio Pessoa e o Porto de Luís Correia .
Por Walter Fontenele | Portalphb
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