Dono de pousada é encontrado morto dias depois de deixar a prisão junto com sua esposa
📷Dono da pousada Paraíso Perdido. Reprodução |
Após condenação por roubo e extorsão a uma mulher em Salvador, o empresário Leandro Silva Troesch e a esposa, Shirley da Silva Figueiredo, deixaram o presídio em momentos distintos. Ela saiu primeiro. Dois meses depois, foi a vez dele. No entanto, ao retornar à famosa Pousada Paraíso Perdido, em Jaguaripe, no Recôncavo baiano, Leandro não gostou de encontrar Shirley convivendo com uma ex-detenta, com quem passou os dias na prisão.
Shirley havia dado moradia e emprego a estelionatária Maqueila Santos Bastos, que saiu da prisão junto com ela. “Leandro não queria Maqueila na pousada, tanto que a mandou embora. Ela é perigosíssima. Era uma das lideranças do Presídio Feminino de Salvador. Maqueila tem mais de 30 inquéritos e 10 processos”, contou o delegado Rafael Magalhães, titular da delegacia de Jaguaripe. A polícia apura que tipo de relação as duas mantinham.
No período em que Maqueila permaneceu na pousada, Leandro e Shirley não se entendiam. “Brigavam bastante. Ele não gostava de encontrar com a estelionatária”, disse o delegado. A ex-detenta já estaria agindo na região. “Encontramos na pousada animais trazidos por ela sem documentação alguma, como cavalos, bois, típico de negociações ilícitas”, explicou Magalhães.
De acordo com a polícia, dez dias após a expulsão de Maqueila da pousada, Leandro foi encontrado morto com um tiro na cabeça em um dos quartos da pousada. Nesse dia, Shirley disse, em um depoimento inicial à polícia, que o caso se tratava de um suicídio.
Mas quando a polícia precisou ouvi-la pela segunda vez, Shirley já havia deixado a cidade sem comunicar à Justiça. Ela estava em prisão domiciliar, e existia uma medida cautelar que a impedia de sair da pousada sem a permissão judicial, o que levou a Justiça a decretar a sua prisão.
Maqueila também não foi mais localizada e poderá também ser presa. “Preciso tomar o depoimento dela. Ela conviveu aqui dias antes de tudo acontecer. Deve ter algo que possa acrescentar à nossa investigação. Não a encontramos em lugar algum e, por isso, faz-se necessário a prisão para que possamos interrogá-la”, declarou o delegado Magalhães.
Morte de funcionário
Na segunda (7), foi divulgada a morte de um funcionário de Leandro, identificado incialmente como Marcel. Pelo menos dois homens têm envolvimento no assassinato de Marcel. Segundo a Polícia Civil, um traficante e um usuário de drogas participaram da execução da vítima.
Marcel foi encontrado morto no domingo (6), no distrito de Camassandi, no mesmo município. Ele era o ‘braço direito’ do empresário e chegou a ser ouvido pela polícia após a morte de Leandro, mas seria ouvido mais uma vez no domingo.
O delegado responsável pelo caso disse ainda que não descarta nenhuma possibilidade para o crime, inclusive o fato de a vítima ter sido morta por representar uma ameaça para alguém.
“É muita coincidência. A polícia trabalha com todas as vertentes, inclusive a de queima de arquivo”, disse o delegado, que acredita que mais pessoas estejam envolvidas no assassinato de Marcel.
Discussão
Ainda segundo a polícia, Leandro discutiu com Shirley momentos antes de ser achado morto, há duas semanas. O desentendimento do casal ocorreu ainda na pousada e foi testemunhado por funcionários. “Algumas pessoas que trabalham no local disseram que ela [Shirley] e Leandro tiveram uma discussão instantes antes de ele ter morrido. Não consegui decifrar ainda o motivo, mas houve um desentendimento entre o casal”, afirmou o titular.
Os relatos não coincidem com a versão apresentada por Shirley no dia do crime. “O inquérito está como ‘morte a esclarecer’. Quando ouvida no dia em que o corpo foi encontrado, Shirley disse ao delegado de Santo Antônio de Jesus, que fez o levantamento cadavérico, que foi suicídio. Testemunhas relataram que, durante a semana, Leandro não apresentava sinais de depressão, pelo contrário, fazia planos”, declarou Magalhães.
Relembre o crime do casal
O CORREIO teve acesso às informações do processo que apura as acusações contra Leandro e Shirley. Outras três pessoas contam como réus. São elas: Joel Costa Duarte, Carlos Alberto Gomes de Andrade e Júlio da Silva Santos. De acordo com a Justiça, Joel abordou a vítima no dia 10 de maio de 2001, quando ela estacionava o carro na porta de casa, no bairro de Itapuã, por volta das 18h30. Eles tomaram o veículo da vítima e a mantiveram no carro enquanto eram efetuados saques de dinheiro em caixas eletrônicos.
Ao verificar o saldo bancário da vítima, Joel arquitetou a extorsão mediante sequestro, ficando a cargo de Júlio mantê-la em cárcere privado, primeiro no Motel Le Point, em Itapuã, depois numa casa situada na Praia de Ipitanga, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS), alugada ao próprio Joel e a dois comparsas, neste caso, Leandro e Shirley.
Enquanto mantida em cárcere privado, a vítima foi alvo de reiteradas ameaças de morte feitas por Júlio, somente sendo liberada após o pagamento do resgate de R$ 35 mil. No processo consta que Leandro que conduziu o veículo da vítima e fez os saques. Já Shirley, foi a responsável por buscar o pagamento do resgate.
As armas utilizadas na prática dos crimes pertenciam aos dois Joel e Júlio, que conseguiram fugir na ocasião. No entanto, Leandro, Shirley e Carlos Alberto foram presos em flagrante. Posteriormente o casal passou a responder pelos crimes em liberdade, até a justiça ter voltado atrás em 2018.
Por Correio24horas
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