Catirina, o curandeiro das Sete Cidades

Gruta do Catirina
📷Gruta do Catirina ((c)) Walter Fontenele
🏠Piracuruca (PI)

Quem conhece o Parque Nacional de Sete Cidades com certeza visitou a Gruta do Catirina. Ali, durante quase 10 anos, o povo da região respeitou um homem que se tornaria um mito pela sua bondade, pela falta de ambição e, sobretudo, pelos mistérios que ainda envolvem as curas milagrosas que ele fazia.

José Ferreira do Egito, o Catirina, era um lavrador que desde cedo pensava em se santificar. Com esse propósito chegou a passar três dia no oco de um pau de mirindiba, mas a fome e a sede o levaram de volta ao lar. Esse detalhe não foi suficiente para desanimá-lo. Alguns desgostos familiares, a morte da esposa em 1936 e a vontade de desencantar Sete Cidades o levaram a morar numa gruta na “quarta cidade”, acompanhado de seu filho Martinho.

Era por volta de novembro de 1938 quando Catirina decidiu abandonar a casa que morava e partir para a santificação. Quem relata é seu filho Raimundo Ferreira do Nascimento, já falecido.

“Nós moramos no Bom Sossego, adiante da Piscina do Milagres, ali na Primeira Cidade. Foi lá que minha mãe morreu, em novembro de 1936. Dois anos depois, papai foi morar na Gruta, no fim de 1938”.

         

Com esse depoimento, o filho de Catirina abre um leque de informações sobre um homem sem ambições e que, pelas razões que os mistérios abrigam, passou quase dez anos morando na gruta que hoje lhe presta homenagem: a Gruta do Catirina – grande peça no cenário das belezas e magias que cercam as Sete Cidades de Pedras.

No período em que viveu na gruta, de 1938 a 1946, Catirina era venerado pelos moradores da região. Os seus milagres chegaram a curar mordida de cobra, quebrantos e mau olhado, bicheiras em animais e muitas outras enfermidades levadas pelos que tinham fé em suas rezas. No centro da gruta há um buraco de aproximadamente 20 cm de diâmetro, onde Catirina preparava suas ervas, pilava arroz e milho e dava ambiente à magia e suas orações. Em troca dessas bondades, os moradores retribuíam com alimentos, e assim o Curandeiro das Sete Cidades seguiu o seu destino milagroso.

O filho, Martinho, adoeceu fortemente e faleceu em 1944, com 52 anos de idade. Catirina enterrou-o perto da gruta e, desgostoso voltou ao convívio familiar. Dois anos depois, em 1946, sentiu seu dia aproximar-se, como narra seu filho Raimundo.

“Quando foi pra ele morrer, rezou as orações dele tudinho, bem alto, pra todo mundo ouvir. Ele rezou às 5 horas da manhã, sentou-se na rede e disse: meu filho, minha viagem é às 6 horas da tarde. Aí, eu disse: papai, mas que conversa é essa! Você vai ficar bom, se Deus quiser. Ele continuou dizendo que sua viagem era às 6 horas da tarde. Alguns chegaram a dizer que estava delirando. Mas qual o quê! Quando foi 6 horas ele chamou nós tudinho, abraçou os meninos e pediu a bênção. Quando nós tomamos a bênção, ele estava sentado, foi virando pra trás e morreu. Isso é que é um mistério, a pessoa saber a hora que vai morrer”.

Catirina morreu no povoado de Contente, próximo ao parque. O seu desejo era ser enterrado pero de seu filho Martinho, lá nas proximidades da gruta. Mas não foi possível: está enterrado no Cemitério do Paiol, um pouco mais adiante, em Piripiri.

Mesmo há 40 anos, Catirina era um homem que lia muito. Tinha estatura baixa e usava batina. Costumava ler um livro que continha todas as suas rezas, mas ninguém sabe ao certo quem o adquiriu. Segundo José Romã, funcionário do IBANA e que nasceu em Sete Cidades, o livro teria sido adquirido por um geólogo da Petrobrás e está em Natal, no Rio Grande do Norte.

Foi-se o homem e fica a lenda. Catirina dizia: “Sete Cidades ainda vai ser um lugar muito bom”.

Por Walter Fontenele | Portalphb
Fonte: Enéas Barros
Fotos: Walter Fontenele

 

 

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