Mano Velho, uma história de labuta e de sofrimento nas águas barrentas do Parnaíba
📷Mano Velho ((c)) Almanaque da Parnaíba (1982) |
Poucas pessoas conhecem o
Senhor Antônio Pereira da Silva, um trabalhador que tirou o sustento de sua
família (oito filhos) das águas barrentas do Rio Parnaíba e do seu afluente, o
Rio Igaraçu. Todavia, essa situação muda se o chamarmos pelo seu apelido, Mano Velho, que acabou
se transformando em seu nome.
Nos tempos áureos da
navegação no Rio Parnaíba esses trabalhadores eram chamados, principalmente pelos
policiais, de “porcos d’água”. Não se sabe ao certo quem e quando esse apelido
pejorativo foi criado, mas era muito usado pelos policiais, quando das muitas
brigas em que eles se envolviam com os trabalhadores (marujos, Vareiros e
estivadores) do rio. Segundo (OLIVEIRA, 1982),
O
Vareiro, o “porco d´água”, como o chamava os milicianos, que, em contra
partida, eram pelo primeiro tachado de “mata-cachorro”, escreveu grande epopeia
no leito do rio com a ponta ferrada de sua vara de quatro braças [...].
Mano Velho era um desses
trabalhadores que fizeram do rio sua vida, sua moradia, seu sustento e de sua
família. “Acho que foi em 1900 que eu me
misturei com o rio... só me lembro de que era um moleque atiçado, tinha tutano
nos ossos e queria correr o mundo. De serviço pesado, eu já conhecia de tudo:
plantar, capinar, corta cana, lidar com bichos, tudo serviço grosseiro que foi
só isso que minha mãe me ensinou. Pai não tive a fortuna de conhecer... a velha
é que tinha de dar a murrada pra dar sossego pro bucho da gente”.
Apesar de não ter conseguido aprender a ler e a escrever, Mano Velho, conseguiu educar os seus filhos. “[...] Meus filhos todos sabem. Tenho oito filhos e todos sabem ler. Tenho até filha formada em professora, tem outro na Universidade. Seu criado velho aqui é que só mesmo sabe mexer na lama desse rio... O resto é assentar o dedão melado de tinta onde os homens mandarem”. (SANTOS, Cinéas. O Homem e o Mar. Almanaque da Parnaíba. 59ª ed. Ano LIX, 1982, p. 29).
Sobre o apelido, Mano Velho,
desconversa. “Quando deram de me chamar de Mano Velho eu ainda nem era velho;
acho que foi coisa dos estudantes de Timon. Só sei que o pessoal foi pegando
no dente, e hoje eu nem me lembro se um dia tive outro nome”.
Quando Mano Velho concedeu
essa entrevista, publicada no Almanaque da Parnaíba de 1982, ele estava com 66
anos. As suas muitas histórias e resenhas são coisas do passado e o rio, antes navegável,
hoje não é nem sombra do que foi um dia.
Por Walter Fontenele | Portalphb
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