Cultura: Reminiscências do "Casino 24 de Janeiro"

Foto: Almanaque da Parnaíba

Em 1925 Parnaíba, que ainda era escrito Parnahyba, vivia uma época de modernidade e os ares do progresso já era visível nas estruturas físicas dos prédios públicos e privados.

Nessa leva de desenvolvimento, foi fundado em 24 de Janeiro de 1925 o “Casino 24 de Janeiro”, um clube que embalou a elite de Parnaíba com seus bailes e festas carnavalescas por muitos anos. O seu nome foi uma justa homenagem à data da proclamação da independência em Oeiras, em 24 de Janeiro de 1823. 

O “Casino” funcionava na Avenida Governador Getúlio Vargas (Rua Grande) com a atual Rua Alcenor Candeira, no Centro de Parnaíba, tendo sua entrada principal em frente ao atual prédio da Academia Parnaibana de Letras (APAL), tendo como seu primeiro Presidente, Francisco Pires de Castro. 

Carlos Araken. Arquivo Pessoal

Segundo o Saudoso médico e memorialista Carlos Araken eu seu livro “Estórias de Uma Cidade Muito Amada”, 

[...] dava gosto ir ao baile no cassino. O assoalho de tábua corrida brilhando, tudo muito bonito, muito limpo. A iluminação era feérica. Ainda não entrara na moda a meia luz, nos clubes sociais. Isto era coisa de ambientes escusos: cabarés para ser mais exato. As mesas das janelas eram as mais disputadas, e seus ocupantes confraternizavam-se no corredor do baile, com a turma do ‘SERENO’”. 

Segundo ainda Araken, 

[...] SERENO pra quem não sabe, era a plateia formada pelos ocupantes dos caixotes, tamboretes e congêneres que eram acorrentados nas sacadas das janelas, de manhã cedo nas grandes festas, e vigiados pelos moleques o dia todo, para não perder o lugar. Era composto também por pessoas da sociedade, que por um motivo ou outro, não podiam participar diretamente da festa, e se acotovelavam e se equilibravam num espaço exíguo, a fim de não perder um lance sequer do que se passava no salão. Diziam muito que o próprio era mais divertido que o baile. A participação da galera não se limitava apenas em ver e sim tomar parte com vaias ou aplausos conforme os acontecimentos do “espetáculo”. No dia seguinte antes das personagens acordarem, todo mundo já sabia dos novos pares, dos trajes, das desavergonhadas que dançavam “colados”, ou de inocentes beijos concedidos por alguma mais assanhada. A verdade é que o espetáculo nunca decepcionava”. 

Foto: Arquivo Pessoal de Eleusis Teles Sousa

Carlos Araken descreve ainda as vestimentas das senhoras e dos senhores da época, tendo as mulheres o cuidado de não repetir o meu traje em duas ocasiões diferentes, 

O vestido das damas, nunca repetidos (era um verdadeiro acinte usar um traje mais de uma vez) eram longos e bem cuidados. Os cavalheiros nos dias de gala usavam summers jackets. Quem não tinha mesmo, usava terno branco com gravatinha borboleta. Os sapatos de verniz ou pelica alemã eram comprados no Tote Machado ou no Maru. O perfume era francês mesmo, vindo das estranjas pelos navios que aportavam em Tutóia”. 

Nas palavras do memorialista o clube não era um ambiente para todos os estratos da sociedade, sendo voltado quase que exclusivamente a elite comercial e empresarial da “época de ouro” da Parnaíba. 

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Parnaíba sempre foi famosa por suas festas carnavalescas, uma herança dos tempos áureos de prosperidade e riqueza da nossa elite comercial. O Casino era um ambiente famoso pelas suas festas de Momo, oportunidade em que as pessoas aproveitavam para montar seus blocos carnavalescos, caprichando nas fantasias e nas ornamentações. Assim Araken relembra, 

[...] com o coração na mão e o lança-perfume dourado na outra, já devidamente fantasiados, lá estávamos nós; esperando a nossa deixa para entrar no salão. [...] o mais exibido da turma era portador do estandarte do bloco. Agora era pra valer, a orquestra tocava nossa música; e aqui vamos nós aos pulos, que eram ampliados pelo assoalho oco, que dava maior vibração aos nossos corações, agora já em plena harmonia com a marchinha que vinha da orquestra. Fazíamos evoluções mil, e logo depois íamos sendo anexados pelas garotas solteiras, ou por blocos femininos que necessitavam de nossa parceria”. 

O “Casino 24 de Janeiro” funcionou até 1964, deixando saudade nas pessoas que viveram àquela época marcante na vida da cidade e dos seus munícipes. 

Fonte: Walter Fontenele com informações dos livros: “Estórias de Uma Cidade Muito Amada” (Carlos Araken) e do livro “Uma História das Beiras ou nas Beiras” (Erasmo Amorim). 

 

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